quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Processos criativos na era touch

    Salve, pessoal! 

    Estou aqui hoje para falar sobre um vídeo que fiz há mais de um ano e que está publicado no meu canal do YouTube. Em 2021, durante a pandemia, resolvi alimentar o canal com um pouquinho dos meus processos criativos. As redes sociais dos artistas muitas vezes trazem a ideia de que o conteúdo que está lá apareceu magicamente no feed, sem esforços e sem todo um tempo de criação por trás daquela obra/imagem. Obviamente, todo ofício tem seus processos que demandam tempo, trabalho e geralmente esses processos são desconhecidos por quem não trabalha na área. No entanto, especialmente na era touch, onde a imagem reina, acho importantes que nós artistas da imagem pensemos sobre a instantaneidade da imagem nessas plataformas e quais percepções isso pode gerar em quem nos acompanha.

    Depois de um bate-papo com alguns ilustradores no Filexpandido, comecei a perceber que nós, artistas presentes nas redes sociais, também contribuímos para uma percepção limitada sobre o nosso ofício ao mostrar nas plataformas apenas a arte final (sem antes compartilhar os processos que nos fizeram chegar nela). É a tal da vida editada, onde só a parte atraente aparece, dispensando o cru, o que realmente faz a vida. Todo mundo sabe que esse cru nem sempre é bonito e que mostrar exige uma dose de desapego dos ideais que temos sobre nós mesmos. Desapego esse que estou tentando trabalhar.

    Pensando na criação de uma imagem artística, excluir os bastidores desses compartilhamentos em rede é também a exclusão do tempo que levamos para fazer aquele trabalho, do tempo que testamos opções, do tempo de estudo, exploração e aprendizado para chegar nos resultados que chegamos. Significa excluir os materiais que testamos inúmeras vezes até chegar no resultado que expressa nossa sensibilidade, excluir os erros, as frustrações e as ansiedades que vêm junto do processo criativo.

    Excluir o processo é excluir o contexto e a história que fez aquele trabalho ser possível. Acho que nesse sentido nós criadores temos uma responsabilidade: a de compartilhar a história daquela obra. Penso que essa é também uma forma de ressignificar o resultado final, descolando dele a ideia fantasiosa de instantaneidade (que hoje é a essência das imagens feitas por inteligências artificiais, cada vez mais comuns no meio virtual). Acho que as lives com artistas e relatos, por exemplo, fazem muito bem esse papel.

                                                       Speedpainting - YouTube | 2021

    O tempo e os recursos que empregamos para realizar uma obra agregam a ela valor, e em tempos de instantaneidade e aceleração do tempo percebido, esse valor merece ser enfatizado. Sei que o processo criativo não pode ser totalmente mostrado pois para isso seria necessário trazer cada pessoa para dentro do estúdio, do ateliê e até mesmo da mente do artista para mostrar o que se passa por lá enquanto ele cria. Sabemos que isso é impossível de capturar, já que estamos falando da experiência humana, no entanto, o que tenho me desafiado a fazer de agora em diante é mostrar um pouco mais dos bastidores na esperança de colaborar com essa percepção sobre o processo.

    Nesse vídeo que fiz para meu canal, gravei uma"Speedpaint": uma pintura em guache sobre papel que aparece em time-lapse, num tempo acelerado. O vídeo não dá uma exata dimensão do tempo que levei para fazer a arte (sem os cortes e a aceleração, o vídeo teria algumas horas), mas já dá uma ideia de processos para aquilo nascer. Gosto muito de acompanhar os processos de outros artistas: vendo como a mão deles se movimenta para chegar nas soluções, sinto que meu corpo também se mobiliza para criar. A mobilização para fazer, para criar, além de expressão talvez também seja uma forma de não alienação

    Espero que gostem do vídeo e, quem sabe, se mobilizem a pausar com esse pequeno fragmento de tempo.



    Abraços, 

    Nat

    9 de novembro de 2022